Estudo de Tempos e Métodos: Um guia para aumentar a produtividade

Estudo de Tempos e Métodos: Um guia para a Eficiência e Produtividade

Introdução

Você já se perguntou por que algumas tarefas parecem levar uma eternidade para serem concluídas, enquanto outras são realizadas com surpreendente rapidez? Ou por que, mesmo com todo o esforço da sua equipe, os índices de produtividade não decolam? A resposta, muitas vezes, reside na ausência de uma abordagem sistemática para analisar e otimizar a forma como o trabalho é feito. É aqui que entra o Estudo de Tempos e Métodos (ETM).

O ETM não é apenas uma ferramenta; é uma filosofia de melhoria contínua que permite às empresas entenderem profundamente seus processos, identificarem gargalos e eliminarem atividades que não agregam valor. Neste artigo, vamos entender um pouco do universo do Estudo de Tempos e Métodos, explorando desde seus fundamentos teóricos até sua aplicação prática, com exemplos reais e um foco especial em como ele se integra perfeitamente aos princípios do Lean Manufacturing. Seja você um gestor industrial, um empreendedor de serviços ou o proprietário de um pequeno negócio, compreender e aplicar o ETM pode ser o divisor de águas para sua produtividade.

O que é o Estudo de Tempos e Métodos (ETM)?

O Estudo de Tempos e Métodos é uma metodologia sistemática desenvolvida para maximizar a eficiência humana e operacional. Ele se divide em duas frentes complementares e indissociáveis: o Estudo de Métodos e o Estudo de Tempos (Mundel & Danner, 1994).

Estudo de Métodos: a arte de fazer melhor

O Estudo de Métodos foca no “como” a tarefa é executada. Seu principal objetivo é analisar os movimentos e procedimentos envolvidos em uma operação, buscando simplificá-los, eliminá-los ou combiná-los para torná-los mais eficientes. É uma busca incessante pela “melhor maneira” de realizar um trabalho, eliminando desperdícios e movimentos desnecessários. Pense em um cirurgião que aprimora a sequência de seus instrumentos para reduzir o tempo da operação, ou um cozinheiro que reorganiza sua bancada para minimizar deslocamentos. Ambos estão aplicando, intuitivamente, princípios do Estudo de Métodos.

Estudo de Tempos: A Ciência da Medição e Padronização

O Estudo de Tempos, por sua vez, concentra-se na mensuração. Uma vez que o “melhor método” é estabelecido, o Estudo de Tempos entra em cena para determinar o tempo padrão necessário para que um trabalhador qualificado, trabalhando em um ritmo normal, execute a tarefa sob condições especificadas (Barnes, 1980). Essa medição rigorosa é fundamental para:

  • Determinação de tempos-padrão: Essenciais para planejamento de produção, orçamentos e definição de metas.
  • Cálculo da produtividade: Permite monitorar o desempenho e identificar oportunidades de melhoria.
  • Dimensionamento de equipes: Ajuda a definir a quantidade ideal de colaboradores para uma determinada demanda.
  • Elaboração de cronogramas precisos: Garante que os prazos sejam realistas e alcançáveis.
  • Custeio baseado em atividades (ABC): Fornece dados concretos para precificação e análise de lucratividade.
  • Balanceamento de linhas de produção: Otimiza o fluxo de trabalho, evitando gargalos e ociosidade.

A combinação desses dois estudos fornece uma base sólida para decisões estratégicas, transformando suposições em dados concretos e permitindo uma gestão mais assertiva.

Por que o ETM é essencial para o sucesso das empresas?

A aplicação do Estudo de Tempos e Métodos não é um luxo, mas uma necessidade em um mercado cada vez mais competitivo. Seus benefícios se estendem por diversas áreas da organização, gerando impactos positivos diretos e alinhando-se perfeitamente com os princípios da manufatura enxuta.

Benefícios Diretos da Aplicação do ETM

  1. Redução de Movimentos Desnecessários e Eliminação de Atividades Sem Valor Agregado: Ao analisar cada movimento e etapa, o ETM permite identificar e eliminar o “Muda” (desperdício) nas operações, conforme preconizado pelo Lean Manufacturing. Isso se traduz em menos tempo gasto em atividades que não contribuem para o valor final do produto ou serviço (Womack & Jones, 2003).
  2. Padronização das Melhores Práticas: Uma vez identificado o método mais eficiente, ele pode ser documentado e padronizado, garantindo que todos os operadores executem a tarefa da mesma forma, com consistência e qualidade.
  3. Ganhos em Segurança e Ergonomia: A análise de movimentos também considera o conforto e a segurança do operador, minimizando riscos de lesões e fadiga. Um processo bem desenhado é, por natureza, mais ergonômico.
  4. Criação de Instruções de Trabalho Eficientes: O ETM fornece a base para a elaboração de instruções visuais e detalhadas (os Standard Work do Lean), que facilitam o treinamento e garantem a execução correta da tarefa.
  5. Base Sólida para Implantação de Indicadores de Desempenho (KPIs): Com tempos padrão e métodos otimizados, é possível estabelecer metas realistas e medir o desempenho da produção com precisão, monitorando a evolução e identificando novas oportunidades de melhoria.

Alinhamento com o Lean Manufacturing: O ETM como alicerce da eficiência

O Estudo de Tempos e Métodos é um dos fundamentos operacionais do Lean Manufacturing ele atua diretamente no combate aos sete desperdícios (Superprodução, Espera, Transporte, Excesso de Processamento, Inventário, Movimento e Defeitos), que são o foco principal da filosofia Lean (Ohno, 1988). Ao otimizar o fluxo de trabalho, eliminar movimentos desnecessários e padronizar o tempo de execução, o ETM contribui diretamente para um sistema de produção mais enxuto, ágil e responsivo às necessidades do cliente.

Por exemplo, um estudo de tempos pode revelar que o tempo de espera entre duas etapas é excessivo, indicando um desperdício de “Espera”. O estudo de métodos pode então propor um redesenho do layout ou a implementação de um sistema puxado para eliminar essa espera.

Como aplicar o estudo de tempos e métodos: Um guia passo a passo

A aplicação do ETM segue uma sequência lógica de etapas, garantindo uma análise completa e resultados consistentes.

Escolha da Tarefa a Ser Estudada

A seleção da tarefa é crucial. Priorize atividades que representam gargalos produtivos, que consomem muito tempo ou recursos, ou que apresentam alta variabilidade de tempo de execução. O foco deve ser onde o impacto da melhoria será maior.

Análise e Melhoria do Método Atual

Esta é a fase do Estudo de Métodos. É o momento de observar, questionar e documentar o “como” a tarefa é feita atualmente. Ferramentas visuais são extremamente úteis aqui:

  • Fluxograma do Processo:Representa graficamente a sequência de todas as etapas do processo, ajudando a identificar redundâncias e pontos críticos.
  • Mapa de Fluxo de Valor (VSM):Permite visualizar o fluxo de materiais e informações, identificando atividades que agregam e não agregam valor.
  • Diagrama de Movimentos (ou Trajeto):Desenha a trajetória física de um operador ou material no ambiente de trabalho, revelando movimentos desnecessários e longas distâncias percorridas.
  • Checklists Operacionais:Auxiliam na padronização e garantem que todos os passos críticos sejam seguidos.

O objetivo é redesenhar o processo para eliminar desperdícios, simplificar operações e otimizar o fluxo de trabalho antes de qualquer medição de tempo.

Cronometragem e Avaliação (Estudo de Tempos)

Uma vez que o método otimizado está estabelecido, é hora de medir. Esta etapa exige precisão e imparcialidade:

  • Use um Cronômetro Digital: Garante exatidão nas medições.
  • Observe Vários Ciclos Consecutivos: A repetição das medições ajuda a mitigar variações pontuais e a obter uma média mais representativa. O número de ciclos dependerá da variabilidade da tarefa.
  • Avalie o Ritmo do Operador (Normalização): É essencial ajustar o tempo observado ao ritmo de um operador “normal” ou “padrão”. Se o operador estiver trabalhando acima do ritmo normal, o tempo observado será menor e precisará ser ajustado para cima; se estiver abaixo, o ajuste será para baixo. Este fator de normalização é subjetivo, mas fundamental para a validade do tempo padrão (Kanawaty, 1992).
  • Adicione Fatores de Tolerância: Nenhuma tarefa é realizada sem interrupções ou necessidades pessoais. As tolerâncias compensam necessidades pessoais (pausas para ir ao banheiro, beber água), fadiga (inevitável ao longo de um turno de trabalho) e atrasos inevitáveis (pequenas interrupções, ajustes de máquina). Essas tolerâncias são geralmente expressas como uma porcentagem do tempo normal.

Cálculo do Tempo Padrão

O tempo padrão é a base para o planejamento e controle da produção. A fórmula é:

Tempo Padrão=Tempo Observado Médio×Fator de Normalização×(1+Tolerâncias)

Exemplo:

Se o tempo médio observado é de 10 minutos, o operador trabalhou em um ritmo 10% acima do normal (fator de normalização de 0,90), e a tolerância é de 15%:

Tempo Padrão=10×0,90×(1+0,15)

Tempo Padrão=9×1,15

Tempo Padrão=10,35 minutos

Este é o tempo que se espera que um operador padrão leve para executar a tarefa.

Documentação e Padronização

Os resultados do ETM devem ser formalizados. Crie instruções de trabalho ilustradas, utilize planilhas eletrônicas ou sistemas digitais de controle para registrar os tempos padrão e os métodos otimizados. Esta documentação é vital para o treinamento de novos colaboradores, para garantir a consistência das operações e para futuras análises de melhoria.

Exemplo Real: Otimização da montagem em uma microempresa de eletrônicos

Para ilustrar o poder do ETM, considere o caso de uma microempresa do setor elétrico que enfrentava sérios problemas de produtividade na montagem de painéis eletrônicos. Os operadores reclamavam de cansaço excessivo, e o tempo de montagem variava drasticamente entre um painel e outro.

O Problema

A análise inicial revelou que o operador precisava se deslocar mais de 10 metros para coletar componentes, ferramentas e fios para cada painel montado. O layout da bancada era desorganizado, e as ferramentas estavam espalhadas, gerando perda de tempo na busca.

A aplicação do ETM

  1. Estudo de Métodos: Primeiramente, a equipe da Furlani Consultoria Lean e Educação Corporativa realizou um mapeamento detalhado dos passos da montagem. Utilizou-se umDiagrama de Trajeto para visualizar os movimentos excessivos do operador.
  2. Melhoria do Método: Com base na análise, o layout da bancada foi redesenhado utilizando princípios de 5S (Seiri, Seiton, Seiso, Seiketsu, Shitsuke). As ferramentas foram organizadas em um painel perfurado (pegboard) próximo ao ponto de uso, e os componentes mais utilizados foram dispostos em caixas kanban na ordem de montagem, minimizando a necessidade de locomoção.
  3. Estudo de Tempos: Após a implementação do novo método, foram cronometrados múltiplos ciclos de montagem, e os tempos foram normalizados e as tolerâncias adicionadas.
  4. Padronização: Foram criadas instruções de trabalho visuais com fotos do novo layout e da sequência de montagem otimizada.

Os Resultados

A aplicação do ETM resultou em uma redução de 28% no tempo médio de montagem de cada painel. Além disso, a fadiga do operador diminuiu significativamente, a qualidade das montagens se tornou mais consistente e a capacidade de produção da empresa aumentou sem a necessidade de novos investimentos em equipamentos caros. Este é um exemplo claro de como uma análise metódica e a aplicação de ferramentas simples podem gerar resultados substanciais.

Ferramentas úteis para o Estudo de Tempos e Métodos

Para facilitar a aplicação do ETM, diversas ferramentas podem ser utilizadas:

  • Planilhas de Cronometragem: Modelos pré-formatados em softwares como Excel ou Google Sheets para registrar tempos observados, calcular normalização e tolerâncias. Na Academia Furlani, oferecemos planilhas personalizadas para nossos alunos.
  • Softwares de Análise de Tempos: Ferramentas mais robustas como Timer Pro ou Time Study Snap que automatizam cálculos e análises mais complexas.
    • Nós estamos desenvolvendo ferramentas similares que auxiliará e muito as micro e pequenas empresas.
  • Templates de Instruções de Trabalho Ilustradas: Modelos que facilitam a criação de documentos visuais claros para a padronização do método.
  • Checklists de Micromovimentos e Ergonomia: Ferramentas que ajudam a analisar movimentos finos e identificar pontos de melhoria ergonômica.
  • Câmeras de Vídeo: Permitem a revisão detalhada dos movimentos em câmera lenta, auxiliando na identificação de desperdícios imperceptíveis a olho nu.

Conclusão: O ETM Como alavanca da excelência operacional

O Estudo de Tempos e Métodos é uma ferramenta indispensável para qualquer organização que busque a excelência operacional. Ele oferece a base para padronizar, medir e melhorar processos com base em dados reais e análises objetivas. Seja em linhas de produção complexas, em áreas administrativas ou na prestação de serviços, sua aplicação sistemática traz resultados concretos, consistentes e, o mais importante, sustentáveis.

Investir em ETM é investir em conhecimento sobre seus próprios processos, em redução de custos, em aumento de capacidade e, fundamentalmente, em uma cultura de melhoria contínua. Na Furlani Consultoria Lean e Educação Corporativa , somos especialistas em transformar a realidade de empresas por meio da aplicação prática e descomplicada do Estudo de Tempos e Métodos. Oferecemos cursos completos, consultoria especializada, com materiais práticos, videoaulas e simulações reais de aplicação para capacitar sua equipe e impulsionar seus resultados.

Em breve teremos um sistema disponível pela WEB para calcular rapidamente o tempo padrão das operações. Além de outras funções extremamente úteis para micro e pequenas empresas.

Transforme seus processos e aumente sua produtividade com a ajuda de quem entende do assunto!

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Referências

  • BARNES, Ralph M.Motion and time study: Design and measurement of work. 7. ed. New York: Wiley, 1980.
  • KANAWATY, George D. (Ed.).Introduction to work study. 4th ed. Geneva: International Labour Office, 1992.
  • MUNDEL, Marvin E.; DANNER, David L.Motion and time study: Improving productivity. 7. ed. Englewood Cliffs: Prentice Hall, 1994.
  • OHNO, Taiichi.Toyota Production System: Beyond Large-Scale Production. Portland, OR: Productivity Press, 1988.
  • WOMACK, James P.; JONES, Daniel T. Lean thinking: Banish waste and create wealth in your corporation . Rev. and updated ed. New York: Free Press, 2003.
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